de repente, mudei. _#04
o glamour (ou a falta dele) da vida de imigrante, verão europeu e um recap dos meus últimos meses desde que saí do Brasil.
Depois que saí do meu último emprego em 2022 e voltei a ser freela, eu sem querer me tornei quem eu mais temia: a pessoa low profile, a pessoa que usa a expressão “calada vence”. Risos. Não foi intencional, mas eu estava exausta de ter que manter minhas redes sociais e criar conteúdo - deixou de ser algo prazeroso e se tornou mais uma obrigação. Uma obrigação que eu não precisava manter na minha vida.
Eu sabia que eu precisava de uma mudança de ares, uma mudança que eu sempre quis desde que me entendo por gente - morar fora. Por muito tempo eu acreditei que o meu caminho para atingir esse objetivo seria estudar fora, fazer um mestrado. Mas os preços dos EUA e Canadá eram completamente fora do meu orçamento. Nunca tinha cogitado a Europa. A vontade de morar fora nunca acabou, vivia ali no canto da minha mente, adormecida, esperando um momento propício para voltar à tona.
Em 2019, eu visitei Portugal e rodei o país de norte a sul. De todas as cidades que passei, Porto foi a que mais me encantou. Tem aquele charme europeu, estrutura de uma cidade grande mas um ritmo pacato. Olhei, despretensiosamente, umas opções de mestrado. Deixei pra lá.
Em 2022 o governo português anunciou uma nova modalidade de visto de trabalho para Portugal. Imediatamente, eu soube que aquele era o meu momento e comecei a me preparar para aplicar para o tal visto - que só começou a vigorar lá para meados de novembro. Foram meses juntando as documentações e dando entrada no processo. Foi longo, cansativo e eu já escrevi sobre isso lá no meu blog (se você não o conhece, faça o favor). Deu certo.
Uma coisa que não te contam sobre imigrar é que, por mais que você se prepare, imprevistos acontecerão. E o prazo que você tem para tomar decisões é muito curto. Minha ideia inicial era trazer a Cookie (minha doguinha maravilhosa) comigo, mas fui pega de surpresa com a exigência da Europa do exame de sorologia antirrábica e tive que tomar a decisão de deixar a minha bebê com meus pais até conseguir resolver essa papelada - não se preocupem, em breve já estaremos reunidas. Então no final, eu fui 100% sozinha. Eu e eu mesma rumo ao desconhecido.
Por sorte, tenho algumas amigas que já residiam por aqui - foi fundamental ter alguma forma de rede de apoio. Uma me descolou um quarto pra alugar pro meu primeiro mês enquanto eu finalizava o contrato de aluguel (um dia conto essa tour aqui), outra me deu dica de empresa de internet, dica de como fazer agendamento nos órgãos públicos e várias outras coisas essenciais para minha sobrevivência aqui na terrinha dos tugas. Conheci outros brasileiros com o mesmo visto que eu e que também foram essenciais nesse percurso. Um salve pro Carlos, o anjo que me avisou que meu agendamento na imigração estava errado (e provavelmente não vai ler esse texto). Aliás, o SEF (órgão responsável pela imigração, tipo a nossa polícia federal) é uma loucura que tira qualquer imigrante do sério. Portugal, melhore.
Meu primeiro mês foi muito doido, um belo mix de passeios turísticos, perrengues com documentação, começar um job de verão e principalmente lidar com o verão. Veja bem, eu detesto calor. Já tinha passado por um verão esse ano. Cheguei em Portugal quando? No auge do verão e, por ser brasileira, achei que iria tirar de letra (ou sem muita dificuldade). Errei feio, errei rude.
O verão aqui é a definição de sauna. Extremamente úmido, tô falando de tipo todo dia a umidade na casa dos 90% porém sem chuvas. Eu como paulistana, tô habituada com um clima mais seco. Foi complicado. Uma sensação de estar sempre transpirando e o suor nunca evaporar. Dois, três, quatro banhos por dia - mas nada resolvia essa sensação horrorosa. Mas nem só de coisas ruins se faz o verão. O verão aqui tem dias super longos - com o por do sol chegando até 21-22 horas. É sensacional, quase faz valer a pena o calor absurdo.
Cheguei bem na época do São João do Porto, fiquei curiosa - mas foi bem no dia que sai do hotel pro quarto que eu havia alugado e eu resolvi comemorar na minha caminha, dormindo. Vai ficar pro ano que vem.
Mudei pro apezinho. Aquele corre da vida adulta de ir comprar cama, colchão e utensílios pra casa. Ir retomando um senso de normalidade e rotina. Construir meu novo lar, gostoso demais. Fiquei doente, meu sistema imunológico não aguentou o perrengue da mudança de estação, mas ficou tudo bem.
Conheci algumas praias aqui da região - bonitas, mas o nosso nordeste ainda dá um pau em várias praias do mundo. Valorizem a beleza do nosso país. Descobri meu novo lugar predileto na cidade. Piqueniques. Jarras de sangria - meu novo vício. Sommelier de pizzas medianas (ainda em busca de uma pizzaria BOA tipo as de São Paulo).
O outono chegou, mas parece São Paulo. Um dia frio, um dia calor de novo. A famosa roleta russa das estações. Nunca sei se devo levar um casaquinho ou não. Quase nunca levo, me arrependo às vezes. Comprei um guarda chuva na minha primeira semana aqui e esqueci no caixa do IKEA. Me recuso a comprar outro desde então. Tomei chuva indo pra um role esses dias. Não aprendo.
Sinto que estou reaprendendo a falar meu próprio idioma. O Português brasileiro já poderia virar um idioma por si só, o Brasileiro. Sério. Linguistas, make it happen. Se fosse só uma diferença de sotaque, tava ótimo. Mas não é. Às vezes eu realmente não entendo o que algumas pessoas falam comigo e automaticamente começam a falar em inglês jurando que eu sou estrangeira e ainda tô aprendendo o idioma. Não reclamo, mas acho gozado e um pouco condescendente, apesar de não ser por mal. Muitos brasileiros por aqui, fico feliz quando encontro um - seja onde for. Uma colonização reversa. Risos. Algumas cidades aqui já receberam até uns apelidos exóticos, tipo Braga - também conhecida como Bragasil.
No mais, sigo encantada com o Porto. Com o Rio Douro. Com a foz. Com as praias. Com a arquitetura. Com os vinhos…ah os vinhos - um dia conto minhas aventuras nas garrafeiras (como eles chamam as adegas) por aqui.
Tento não me apegar na falta da família, dos amigos e da minha terrinha. Do caos paulistano, da vivacidade de uma das maiores cidades do mundo, da agilidade dos nossos serviços públicos (!!!!!!!!!! poupatempo é tudo !!!!!!!!!!!), dos restaurantes, das pizzarias e cafés. E assim seguimos. Até a próxima!